É café pequeno. É ponto de encontro. É lugar de falar do que eu vi, li e ouvi por aí, de dicas, de prosa (e de poesia). A pauta, é claro, livros e literatura.
Poema de T. S. Eliot escrito em 1915, em Oxford, na Inglaterra. Thomas Stearns Eliot nasceu em St. Louis, em 1888, e morreu em Londres, em 1965. Foi um poeta modernista, dramaturgo e crítico literário. Para muitos, é o poeta mais influente do Século XX.
Manhã à janela
Há um tinir de louças de café
Nas cozinhas que os porões abrigam,
E ao longo das bordas pisoteadas da rua
Penso nas almas úmidas das domésticas
Brotando melancólicas nos portões das áreas de serviço.
Personagem quase esquecido da nossa história literária, José Basílio da Gama é o autor do poema O Uraguai, de 1769, considerado a melhor obra no gênero épico do Arcadismo (Movimentos literários brasileiros) brasileiro. Basílio da Gama nasceu em 1741 na região hoje conhecida como Tiradentes, em Minas Gerais. Órfão muito cedo, foi educado no Colégio dos Jesuítas, no Rio de Janeiro e pretendia ingressar na carreira eclesiástica. Fugindo da perseguição aos jesuítas, vai para a Itália onde constrói uma carreira literária e ingressa na Arcádia Romana, sociedade literária fundada em Roma em 1690. Basílio da Gama faleceu em Lisboa, em julho de 1795.
O Uraguai foi escrito em alusão a Os Lusíadas. Apesar de ambos serem poemas narrativos épicos, o livro de Camões é composto por 8816 versos decassílabos, distribuídos em dez cantos, enquanto n’O Uraguai são 1377 versos brancos sem estrofação regular, divididos em cinco cantos.
Obras
–Epitalâmio às núpcias da Sra. D. Maria Amália(1769)
-O Uraguai (1769)
–A declamação trágica(1772), poema dedicado às belas artes
-Os Campos Elíseos (1776)
–Relação abreviada da República e Lenitivo da saudade(1788)
Em artigo no blog O Leitor, da Veja, Maicon Tenfen lembra que as fake news são tão velhas quanto a imprensa. E até mesmo o célebre poeta e jornalista Olavo Bilac (1865-1918) se notabilizou também por embarcar nelas. Tenfen resgata episódio relatado no livro Bilac, O Jornalista, de Antonio Dimas, “um exaustivo trabalho de garimpagem literária graças ao qual temos acesso a praticamente a toda produção jornalística de Olavo Bilac”.
A pataquada em questão consta de uma crônica de Bilac publicada em dezembro de 1896 resgatada no livro de Dimas, onde o “príncipe dos poetas parnasianos” lança uma cáustica e injusta crítica aos “fanáticos de Antônio Conselheiro”, que em meio à barbárie que mais tarde se revelou ser a Guerra de Canudos eram então retratados como míseros sertanejos amotinados no sertão da Bahia sob o comando de um verdadeiro lunático.
Ao abordar erroneamente o conflito como um antro de prostituição e bebedeira, Bilac, conforme o professor e crítico Alfredo Bosi, “fez coro com os jornalistas mal informados e ideologizados da época; e, nesse particular, não foi mais perspicaz do que a maioria dos intelectuais seus contemporâneos, que viam nos jagunços de Canudos um (…) perigo para a jovem República e a civilização ocidental”.
Bilac, o Jornalista, de Antonio Dimas, ganhou o Prêmio Jabuti 2007 na categoria Teoria e Crítica Literária e foi lançado, em três volumes, pela Edusp (www.edusp.com.br).
No meio de tantos “Dia de…”, não podia faltar – ainda bem, o Dia Mundial da Poesia. A data, comemorada hoje (21 de março) foi criada na 30ª Conferência Geral da UNESCO em 1999. Aqui, a comemoração é com Fernando Pessoa, mais que nunca fundamental para clarear os dias atuais.
Obra da artista portuguesa Luiza Caetano.
Poema em linha reta
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado
[sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe — todos eles príncipes — na vida…
Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Imagens raras de Guimarães Rosa em entrevista ao crítico literário Walter Höllerer para um canal de televisão independente em Berlim, em 1962. As imagens fazem parte do documentário “Outro Sertão”, dirigido por Adriana Jacobsen e Soraia Vilela. Na entrevista, Rosa comenta os livros Grande Sertão: Veredas e Primeiras Estórias.