
Trechos iniciais do Manifesto da Poesia Pau-Brasil, assinado pelo escritor Oswald de Andrade e publicado no jornal Correio da Manhã, em 18 de março de 1924, mesmo ano da publicação do Manifesto Surrealista, do escritor francês André Breton. O texto apresenta noções estéticas que iriam nortear o trabalho de Oswald em poesia, assim como de outros modernistas brasileiros, influenciando também poetas estrangeiros, como o francês Blaise Cendrars.
Texto completo no link: http://www.letras.ufmg.br/padrao_cms/documentos/profs/sergioalcides/OswaldManifestos.pdf
A POESIA existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre
nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça.
Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo.
Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O
minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.
Toda a história bandeirante e a história comercial do Bra-
sil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos.
Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senegâmbia. Tudo
revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases feitas.
Negras de jockey. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil.
O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e
dominando politicamente as selvas selvagens. O bacharel. Não
podemos deixar de ser doutos. Doutores. Pais de dores anô-
nimas, de doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos
tudo. Esquecemos o gavião de penacho.