É café pequeno. É ponto de encontro. É lugar de falar do que eu vi, li e ouvi por aí, de dicas, de prosa (e de poesia). A pauta, é claro, livros e literatura.
Não há guarda-chuva contra o poema subindo de regiões onde tudo é surpresa como uma flor mesmo num canteiro.
Não há guarda-chuva contra o amor que mastiga e cospe como qualquer boca, que tritura como um desastre.
Não há guarda-chuva contra o tédio: o tédio das quatro paredes, das quatro estações, dos quatro pontos cardeais.
Não há guarda-chuva contra o mundo cada dia devorado nos jornais sob as espécies de papel e tinta.
Não há guarda-chuva contra o tempo, rio fluindo sob a casa, correnteza carregando os dias, os cabelos.
Poema do livro “João Cabral de Melo Neto – Obra completa”, Nova Aguilar – 1994. Para celebrar os 100 anos do nascimento do escritor, poeta e diplomata, acaba de sair, pelo selo Alfaguara, uma nova edição das obras do autor, desta vez das poesias completas.
Até então praticamente inédita no Brasil, a Nobel 2020 Louise Glück vai ganhar uma sequência de edições no país a partir do ano que vem. Segundo a Folha de SP, a Companhia das Letras tem planos de lançar quatro volumes, compilando um total de nove livros da poeta americana. Ainda no primeiro semestre deve sair uma coletânea que reúne “Faithful and Virtuous Night”, lançado há cinco anos e vencedor do National Book Award, e os suas duas obras anteriores, “A Village Life” e “Averno”. “Winter Recipes from the Collective”, ainda não publicado nos Estados Unidos, já tem tradução confirmada no Brasil para o segundo semestre do ano que vem. Nos anos seguintes, também de acordo com a Folha, a editora planeja publicar mais duas edições reunindo cinco livros mais antigos da autora, como “The Wild Iris”, “Ararat” e “The Triumph of Achilles”.
O que amas de verdade permanece, o resto é escória O que amas de verdade não te será arrancado O que amas de verdade é tua herança verdadeira Mundo de quem, meu ou deles ou não é de ninguém? Veio o visível primeiro, depois o palpável Elísio, ainda que fosse nas câmaras do inferno, O que amas de verdade é tua herança verdadeira O que amas de verdade não te será arrancado
A formiga é um centauro em seu mundo de dragões. Abaixo tua vaidade, nem coragem Nem ordem, nem graça são obras do homem, Abaixo tua vaidade, eu digo abaixo. Aprende com o mundo verde o teu lugar Na escala da invenção ou arte verdadeira, Abaixo tua vaidade, Paquin, abaixo! O elmo verde superou tua elegância. “Domina-te e outros te suportarão” Abaixo tua vaidade Tu és um cão surrado e largado ao granizo, Uma pega inchada sob o sol instável, Metade branca, metade negra E confundes a asa com a cauda Abaixo tua vaidade Que mesquinhos teus ódios Nutridos na mentira, Abaixo tua vaidade, Ávido em destruir, avaro em caridade, Abaixo tua vaidade, Eu digo abaixo.
Mas ter feito em lugar de fazer isto não é vaidade Ter, com decência, batido Para que um Blunt abrisse Ter colhido no ar a tradição mais viva ou num belo olho antigo a flama inconquistada Isto não é vaidade. Aqui, o erro todo consiste em não ter feito. Todo: na timidez que vacilou. .
Canto 81 (fragment)
What thou lovest well remains, the rest is dross What thou lov’st well shall not be reft from thee What thou lov’st well is thy true heritage Whose world, or mine or theirs or is it of none? First came the seen, then thus the palpable Elysium, though it were in the halls of hell, What thou lovest well is thy true heritage What thou lov’st well shall not be reft from thee
The ant’s a centaur in his dragon world. Pull down thy vanity, it is not man Made courage, or made order, or made grace, Pull down thy vanity, I say pull down. Learn of the green world what can be thy place In scaled invention or true artistry, Pull down thy vanity, Paquin pull down! The green casque has outdone your elegance.
“Master thyself, then others shall thee beare” Pull down thy vanity Thou art a beaten dog beneath the hail, A swollen magpie in a fitful sun, Half black half white Nor knowst’ou wing from tail Pull down thy vanity How mean thy hates Fostered in falsity, Pull down thy vanity, Rathe to destroy, niggard in charity, Pull down thy vanity, I say pull down.
But to have done instead of not doing this is not vanity To have, with decency, knocked That a Blunt should open To have gathered from the air a live tradition or from a fine old eye the unconquered flame This is not vanity. Here error is all in the not done, all in the diffidence that faltered . . .
Ezra Pound traduzido por Augusto de Campos, Haroldo de Campos, Décio Pignatari.