É café pequeno. É ponto de encontro. É lugar de falar do que eu vi, li e ouvi por aí, de dicas, de prosa (e de poesia). A pauta, é claro, livros e literatura.
Em vão milhares e milhares de homens, aglomerados em um pequeno espaço, procuravam maltratar a terra em que viviam, esmagando de pedras o solo, para que nada germinasse; em vão arrancavam impiedosamente o arbusto que crescia e derrubavam as árvores; em vão escureciam o ar com fumaça e petróleo; em vão enxotavam aves e animais: a primavera, mesmo na cidade, era ainda e sempre a primavera. O sol brilhava com esplendor; a vegetação, reverdecida, voltava a crescer, tanto nos gramados como entre as lajes do calçamento, de onde tinha sido arrancada; as bétulas, os alámos, as cerejeiras espalmavam suas folhas úmidas e perfumadas, os botões das tílias, já intumescidos, estavam quase a florescer; pardais, pombas e gralhas trabalhavam alegremente na construção dos ninhos acima dos muros, zumbiam as moscas e as abelhas, radiantes de gozar novamente o calor do sol. Tudo era alegria: plantas, animais, insetos e crianças, em esplêndido concerto. Os homens, somente os homens, continuavam a enganar-se e a torturar a si próprios, e aos outros. Somente os homens desprezavam aquilo que era sagrado e supremo: não viam aquela manhã de primavera, nem a beleza divina do mundo, criado para a alegria de todos os seres vivos, e para a todos dispor à união, à paz e ao amor. Para eles só era importante e sagrado aquilo que haviam inventado para instrumento de mútuo engano e tortura.
Trecho inicial de “Ressurreição”, último romance escrito por Liev Tolstói, lançado pela primeira vez em 1899. Em novembro completam-se 110 anos da morte do autor de outros marcos históricos da literatura mundial como “Guerra e Paz” (1869) e “Anna Kariênina”.
Os 10 anos da morte de José Saramago foram comemoradas com diversas iniciativas ao longo da semana. Encontros virtuais, leitura de textos inéditos, debates e exibição de documentários foram algumas das iniciativas registradas no Brasil. Considerado o grande responsável pelo reconhecimento mundial da prosa contemporânea em língua portuguesa, Saramago faleceu em 18 de junho de 1990 na ilha espanhola de Lanzarote. Nobel de Literatura em 1998, teve também diversas obras adaptadas para produções que vão de óperas a longas-metragens de sucesso global como “Ensaio sobre a Cegueira”, que virou filme em 2008 dirigido por Fernando Meirelles. Livro que, inclusive, voltou à lista dos mais vendidos nessa trágica temporada de pandemia do Coronavírus.
Abaixo alguns dos principais romances do autor, publicados no Brasil, em sua maioria, pela Companhia das Letras.
Uma reedição de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, publicada nos EUA pelo selo Penguin Classics, teve toda sua tiragem inicial em brochura vendida nas primeiras 24 horas do lançamento. A nova edição em inglês foi traduzida por Flora Thomson-DeVeaux e tem prefácio do escritor Dave Eggers, cujo texto foi reproduzido na revista The New Yorker, o que para muitos contribuiu para o fênomeno de vendas.
No prefácio, Eggers afirma que “Memórias Póstumas” é um dos livros mais inteligentes já escritos. “É um dos livros mais espirituosos, divertidos e, portanto, mais vivos e sem idade já escritos. É uma história de amor – muitas histórias de amor, na verdade – e é uma comédia de classe, boas maneiras e ego, e é uma reflexão sobre uma nação e uma época, e um olhar inflexível sobre a mortalidade”, diz Eggers. O texto publicado pela The New Yorker pode ser lido clicando aqui.